sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

A roda gigante



A roda gigante não gira mais da mesma forma de quando ele era criança.

Um menino de costumes simples que adorava correr com os pés descalços pelas ruas, subir em árvores, caçar passarinhos, brincar de pique-pega com os amigos da vizinhança, contava nos dedos os dias de novembro, esperando dezembro chegar. Mês de férias e, ao mesmo tempo, de expectativas, aguardando à hora da chegada dos presentes que receberia da empresa em que seu pai trabalhava. Era Natal!

Assim foi por toda a sua infância e adolescência. Na parte superior de seu armário não havia espaço para nem mais um sequer. Ele já estava com dezesseis anos. Portanto, os presentes não chegariam mais. Naquele ano, ele se deu conta de que o tempo fez com que deixasse de se tornar um colecionador de brinquedos.

Uma nova fase começava. De colecionador passou a distribuidor. Assim eram todas as vezes que retornava a sua cidade na época de Natal, após longos períodos trabalhando pelo mundo a fora, em especial na Europa.
Em umas de suas chegadas, todos se surpreenderam ao lhe ver vestido de Papai Noel, com direito a longa barba branca e um enorme saco de presentes apoiado em suas costas. Afinal, era Natal!

O espírito daquele jovem já não era mais o mesmo, a timidez havia desaparecido, no espaço deixado por ela entrou a descontração e a irreverência; vivendo a vida da forma que se sentia feliz e à vontade. Vestir-se de Papai Noel com vinte e poucos anos lhe proporcionava um enorme prazer.

Era Natal!Sendo assim, era tempo de comemorações, de matar a saudade de seus queridos familiares e amigos. Eram muitos os amigos!
A casa de seus pais tornava-se o ponto de encontros e também, de pernoites. As noites deslizavam feito um avião acima das nuvens, para quem participava daquelas reuniões; era como se o avião estivesse apenas flutuando e só se percebia a duração da viagem quando o sol apontava no horizonte. Era chegada a hora de se recolherem.
Se ele permanecesse no Brasil por mais tempo, provavelmente as chaves das portas de entrada daquela casa perderiam as suas funções: entrar e sair livremente. Quantas festas, quanta alegria...

Nos Natais seguintes, ele havia cedido o posto de Papai Noel para seu pai. Função que lhe coube como uma luva. Um Papai Noel legítimo de barriga natural.
Alguns anos depois, o destino bateu a porta de seu pai. A sua triste partida acabou alterando o perfil de Natal daquela casa e intimamente o dele também.

De colecionador passou para distribuidor, de colaborador para um mero espectador. O dia de Natal havia perdido seu encanto e a fantasia de tantos anos foi logo deixada de lado.
De volta a Europa, decidiu não mais retornar a casa para as festas de fim de ano. Dessa vez, o destino lhe reservara uma nova visão do Natal. Então de mero espectador tornou-se um grande expectador.

Essa última transformação se deu graças às dificuldades pelas quais enfrentava. Exaurido de tanto correr atrás de soluções para as suas perguntas, finalmente ele acabou encontrando e conhecendo o lado doce da dor.


Foi exatamente através do “simbolismo religioso” do Natal que ele recebeu o presente mais valioso de sua vida.

O dia de Natal jamais seria comemorado como a festa dos presentes de infância nem a da adolescência. Tão pouco como a festa da comilança, e muito menos ainda, como uma festa simplesmente religiosa exibida pelos muitos canais de televisão nesta época do ano. Essa data transcendera tudo isso.
Era o marco de novos tempos. Talvez, para o mundo seria apenas mais um dos ápices de uma história religiosa, mas para ele, tornar-se-ia o ponto fundamental para uma nova partida.

A roda gigante acabara de completar os seus 360 graus. Naquele momento ele percebera que o foco havia mudado dentro de si. Abatido de girar em círculos em torno de si mesmo, retirou o “eu” do centro de sua vida, cedendo aquele lugar vazio para o nascimento de Jesus.

Pela janela do seu quarto aquecido, ele observava a neve despencar lá do alto. Era Natal em Paris!

“Feliz o homem que confia no Senhor e cuja esperança é o Senhor.” Jeremias 17.7

Feliz Natal a todos!


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